Thursday, February 03, 2005

shame on you, limeira

Estou morando em uma cidade que raramente tem show de artistas de fora. Temos muitas bandas locais que fazem cover e se apresentam nos bares da vida, dia desses fiquei sabendo que o Edson e o Hudson eram daqui. Hein? É uma dupla sertaneja, eu vendia discos deles lá em Londres. É, eu sei, não faz a menor diferença para mim também.
Tem um bar bacana aqui da cidade que trouxe André Christovam sábado retrasado e Lô Borges, sábado passado. Ótimo!

André Christovam, paulista, tocou com Kid Vinil na época dos Heróis do Brasil, viveu nos Estados Unidos onde estudou guitarra e conheceu vários figuras que ele chama de família do blues, seu primeiro disco solo é o Mandinga (disco de 1989, com a maioria das letras em Português, meu predileto dele), acompanhou B.B. King pelo Brasil e está no meu altar da santa trindade do blues brasileiro junto com Nuno Mindelis e o Blues Etílicos.
Em Limeira, trouxe um baterista e um baixista para acompanhá-lo neste show no bar. Mandou Otis Rush, B.B. King, Buddy Guy, fazendo uma breve apresentação antes de começar tocar cada canção e tocou algumas composições próprias.
Mas foi lamentável perceber que o povo que estava por lá, parecia mais interessado nas cervejas e nas conversas do que nos solos de guitarra. Deixa ser, voltei para casa esperando já ansioso pelo próximo sábado, todo próximo show será o show mais importante.

Lô Borges, mineiro, assina junto com Milton Nascimento o Clube da Esquina, disco do início dos anos 70 com músicas como Tudo que você podia ser, O trem azul, Nuvem Cigana, Clube da Esquina #2, Paisagem da Janela e Um girassol da cor de seu cabelo todas compostas por Lô e parceiros, iniciando sua carreira brilhantemente. Muitos de seus contemporâneos da mpb gravaram suas composições, do brock os Paralamas fizeram uma versão de Feira Moderna, o Ira! regravou Um girassol da cor do seu cabelo, da galera dos anos 90, depois de uma polêmica onde algumas bandas mineiras renegavam seus conterrâneos do Clube da Esquina, o Skank apareceu com algumas parcerias com Lô Borges.
Aqui, ele veio com o violão, sentou no banquinho e já iniciou com Paisagem da Janela dizendo que ia relembrar muitos sucessos do Clube da Esquina. Percebi que tinham umas pessoas mais velhas no bar, o que eu achei bacana que na certa era um público que conhece Lô Borges e vieram prestigiar um ótimo músico e não lembro quando foi a última vez que veio algum artista da tal da mpb para cá (seria o Fábio Junior nos anos oitenta? talvez... alguém aí se lembra? porque só me lembro de bandas de rock). A decepção com o povo já começou na segunda ou terceira música, quando o bla bla bla aumentava e neguinho passava de um lado para outro, na frente do palco sem o menor constrangimento. Lô batia nas cordas do violão, cantava mais alto para tentar cobrir o bate papo das pessoas. Uma petulante parou na frente do palco, ficou pedindo algo e ele no meio da música disse que se ela continuasse falando ele erraria a letra, Lô mal terminou e já começou outra e a petulante voltou, ele parou a música para atendê-la. A feia petulante falou, eu não ouvi, ele respondeu no microfone que conhecia, admirava, mas não sabia tocar. Será que ela sabia que aquele cantor ali era o Lô Borges? Ele começou cantar Um girassol da cor do seu cabelo (que era a que eu mais queria ouvir) e teve que interromper novamente porque outra descabida fez um pedido, e ele atendeu, mas a descabida ficou na minha frente conversando e nem ouviu a música que pediu, e se ele não tocasse mais a música que eu queria ouvir ia ter mais raiva ainda da gorda descabida. Mas o público deu atenção quando ele tocou Resposta (música de Nando Reis e Samuel Rosa, se meus ouvidos não me enganaram foi a que o público mais aplaudiu e eu fiquei com vergonha). E pior ainda é quando você vê aqueles tipinhos que correm para perto do palco quando ele toca uma que conhecem e ficam querendo acompanhar com palmas fora do tempo. Um horror. Teve mais vibração do povo quando quebrou uma garrafa do que quando ele tocou a linda Dois Rios.
Pensei que eu era o único que estivesse em um péssimo humor ali, mas não. Quem gosta de Lô Borges e o próprio também deviam estar.

Vamos ver o lado bom disso tudo. Ainda estamos no começo do ano, tenho um tempo pela frente aqui nesta cidade, e não vou mais gastar dinheiro saindo por aqui, já que é muito melhor ficar em casa com um vinho bom e barato curtindo meus discos, meus livros, meus filmes e meus amigos.
Bye, bye povo chucro!


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